Por que é tão difícil estabelecer metas?

Por que é tão difícil estabelecer metas?

“O mundo abre passagem para quem sabe aonde vai”

Desde os 18 anos, quando fiz o Empretec no Sebrae, adotei como lema de vida uma das frases mais marcantes que já ouvi até hoje: “o mundo abre passagem para quem sabe aonde vai”. Essa frase carrega consigo a importância de ter um objetivo de vida e de estabelecer metas para chegar lá.

No mundo das empresas, as metas são a base de toda a meritocracia. Elas permitem que os funcionários se engajem em prol de um objetivo comum, de modo que tomem suas próprias decisões no dia a dia, ao invés de apenas seguirem ordens. É a concretização da parábola do “Fabuloso monarca do reino dos Patos“, que publiquei há alguns meses.

Um objetivo determina aonde se quer chegar e as metas definem os “marcos” que selam o caminho.

Por que é tão difícil estabelecer metas?

Mas se até a “mercearia da dona Chiquinha” precisa de metas, por que as empresas sentem tanta dificuldade em fazer o mesmo?

Ao longo da minha carreira prestei serviço em dezenas de empresas e, muito raramente, recebi metas a cumprir. Num dos mais recentes trabalhos de consultoria em que trabalhei foram necessários mais de dois anos para estabelecer um sistema de metas. Afinal, qual é a dificuldade?

Tenho duas hipóteses sobre isso: Uma que a dificuldade resida na insegurança quanto ao cenário futuro e a segunda, que haja excesso de foco no ambiente interno. Uma é contrária à outra, a primeira olha para fora, mas não consegue fazer inferências e a segunda, olha para dentro e, por vezes, acaba se apegando à política interna, preferências e desejos pessoais.

Se a primeira hipótese for o seu caso, a solução não é mágica, mas é simples. Basta conduzir uma análise SWOT (ou FOFA, como costumam chamar em português) para entender como sua empresa se interrelaciona com o mercado. Para concluí-la, é preciso fazer um benchmarking, visando entender os concorrentes, os fornecedores e clientes. Essas análises tomam forma através do plano de negócios e do plano estratégico. O primeiro explica a empresa e o segundo, quais são seus objetivos e como pretende chegar lá.

Por outro lado, se a segunda hipótese for verdadeira, é preciso evitar o excesso de foco interno, transcender a necessidade de ser o “manda-chuva” e lidar de forma mais objetiva com as relações internas – a “política”. Também é importante dar mais autonomia aos funcionários, lembrar que “todo funcionário é estratégico” e usar mecanismos como o destaque dos “heróis“, metas e regras.

Tendo escolhido a linha de raciocínio que mais tem sentido para o seu caso, observe os passos abaixo e, se restarem dúvidas, entre em contato através das páginas de treinamentos e consultoria, estou à disposição para discutir o caso.

1. Saber aonde vai

“Saber aonde vai” é necessário para suprir a primeira necessidade de ter um objetivo, o que as empresas chamam de “visão”. A visão, como vimos no post sobre planejamento estratégico deve apontar um ponto futuro, uma direção para toda a organização.

Muitas empresas, atemorizadas pelo processo de “prever o futuro”, criam visões genéricas, com textos bonitos sobre “ajudar a humanidade”, sem a especificidade necessária para produzir as “metas smart” e o BSC, o que posteriormente dificulta a elaboração do plano estratégico e inviabiliza o processo de acompanhamento e “aposenta”, prematuramente, o planejamento estratégico.

Saber aonde se quer chegar requer uma boa dose de sonho, coerência e especificidade. É preciso investir tempo para pensar num objetivo realista, alcançável. Uma vez encontrado o objetivo da empresa, todas as decisões serão guiadas por essa “visão” e isso, sem dúvida alguma, aumentará as chances de sucesso.

2. Saber como chegar lá

Tendo descoberto “o que se espera da vida”, é preciso pensar em “como chegar lá”.

O “caminho” são as diretrizes (objetivos e metas) distribuídas para cada funcionário da empresa, é o que chamo simplesmente de Metas e Regras. Esse arcabouço, embora efêmero, traz o direcionamento necessário para que as pessoas tenham proatividade e compromisso. Se no meio da execução o caminho mudar, basta replanejar, não tem problema!

No livro “Gerenciamento pelas diretrizes“, o professor Vicente Falconi, nos dá vários insights sobre como fazer isso. Se possível, deve-se, preferencialmente juntar os gestores para que estabeleçam as metas, que são desdobramentos do objetivo geral da empresa.

Pode parecer complicado, mas não é. Seja qual for o objetivo da empresa, sua “visão” deve ser desdobrada a todos os departamentos.

3. Obter consenso de que este é o caminho

As metas devem ser alinhadas e balanceadas entre os departamentos. Uma área não pode ter uma meta que contradiga às outras, para isso, nada como uma boa conversa.

Por isso as empresas fazem longas reuniões de planejamento estratégico, para construir as metas a partir da visão empresarial estabelecida pelo board.

O consenso é fundamental, pois sem ele, os conflitos se tornarão estruturais e generalizados. Como se sabe, já existem oportunidades demais para conflitos no dia a dia, ao menos as metas devem ter consenso.

4. Estabelecer um modelo para gestão de metas

De posse do objetivo geral, que é a visão, e das metas, deve-se estabelecer um modelo de gestão que permita o acompanhamento até sua conclusão.

Isso geralmente se caracteriza como um plano de ação que determina as atividades ou projetos que cada gestor deverá coordenar para alcançar suas metas e, por conseguinte, o objetivo da empresa no período.

Num modelo de gestão, além do plano de ação, deve-se estabelecer uma periodicidade de acompanhamento, pois sem isso, as coisas correm à esmo. É muito fácil perder a direção se não houver um constante realinhamento, cobrança de resultados ou a oportunidade de pedir auxílio aos pares. É um trabalho de equipe e, sendo assim, exige franqueza, comunicação e feedback.

5. Não se desviar das metas

Uma vez que a empresa já sabe aonde vai, sabe como chegar lá, obteve consenso e faz o acompanhamento dos resultados, basta a parte mais complicada: manter o foco!

No dia a dia tudo pode acontecer, ganham-se e perdem-se clientes, pessoas mudam de cargos, saem da empresa, fornecedores se tornam mais ou menos importantes e o serviço da empresa pode se tornar mais ou menos requerido pelo mercado. Até que ponto isso deve modificar as metas?

Ora, se existe alguma estabilidade no negócio é pouco provável que tudo mude completamente de uma hora para outra. Mas, devo admitir que existem situações em que tudo muda também. Se este for o caso, todos devem se reunir para mudar a visão da empresa e para replicar as alterações consequentes nos demais níveis. Se não for o caso, que é o mais natural, os gestores devem manter a firmeza nos objetivos traçados, caso contrário nunca serão alcançados.

Estabelecer metas é um processo humano, mental e altamente influenciado pelo ambiente. Sei que é difícil, mas sem elas, como diz a frase inicial, a empresa não saberá aonde vai. Nem ela, nem seus funcionários, nem seus clientes e tampouco seus fornecedores. Estabelece-se o caos, a gestão reativa e, muito provavelmente, um ciclo vicioso que pode levar ao fracasso do empreendimento.

Espero ter ajudado!

Eli Rodrigues

Publicado por: Eli Rodrigues