O fabuloso monarca do reino dos patos

O fabuloso monarca do reino dos patos

O Reino dos Patos era próspero e cheio de oportunidades, onde as flores brilhavam, as frutas eram apetitosas e todos viviam muito felizes.  O reino era conduzido em paz há décadas por seu monarca, um homem justo e capaz, que era muito respeitado pelas batalhas que havia vencido no passado.

Para proteger-se, o reino possuía uma grande muralha e, para manter sua cultura intacta, as famílias nobres casavam-se entre si, juntavam suas fortunas e harmonia se perpetuava. Mesmo entre os súditos havia contentamento, a maioria deles não queria deixar a muralha, pois o reino lhes oferecia tudo que precisavam.

O rei tinha apenas um defeito: era extremamente indeciso. Além de reformar seu castelo inúmeras vezes, mudava cerimônias, remarcava bailes, trocava as funções dos ministros e chegava até a mandar refazer as plantações antes que germinassem, trocando suas sementes. O reino prosperava porque tinha uma imensa mina de ouro, de onde os trabalhadores extraíam o mineral dia e noite.

Os nobres às vezes se incomodavam, os súditos se perdiam, mas quem iria contra o soberano, protetor de todas as coisas? As pessoas se adaptavam às excentricidades do rei, pois não desejavam se aventurar noutros reinados por ali.

O reino dos Gansos

Do outro lado do rio ficava o Reino dos Gansos, a terra dos mercadores. Um reino que não ostentava suas riquezas, em vez disso, mantinha seus olhos no que acontecia nos outros reinados. Deste modo, conseguia sempre ter à venda os bens que os demais reinos precisavam.

Seu rei era implacável, havia destituído a nobreza e organizado a sociedade conforme a riqueza que geravam aos cofres públicos. Para incentivar o trabalho, ele garantia que cada um ganhasse conforme o mérito, estabelecia cotas de produção e venda e também capacitava seu povo com ajuda dos estrangeiros que passavam por ali.

Havia governadores, prefeitos, líderes e trabalhadores. Cada um podia criar a forma de trabalhar que desejasse, desde que o resultado fosse alcançado. A ascensão dependia apenas do esforço de cada um e todos usufruíam da liberdade de ir e vir para aprender novas formas de fazer as coisas, melhor e mais rapidamente.

Com isso, suas plantações eram fartas, criavam-se conservantes para levar os alimentos à grandes distâncias, os mineiros criavam joias, os ferreiros criavam espadas e a sociedade florescia espontaneamente na direção que o progresso a levava.

O grande terremoto

Um dia, como sempre acontece, houve uma grande tragédia: um terremoto destruiu parte dos reinados e desmoronou as minas de toda aquela região. Muitos tiveram suas vidas ceifadas por aquele terrível evento, inclusive os filhos primogênitos dos reis. Desolados, ambos tomaram a mesma atitude, se isolaram por 5 longos anos, sem dar ordens a ninguém.

No Reino dos Gansos, os governadores criaram um conselho que decidiu intensificar o trabalho. Deste modo, pensaram eles, seria possível ocupar a cabeça do povo e minimizar os impactos causados pela perda da mina. Reuniram-se em ministérios, fizeram acordos com países estrangeiros, compraram terras, gado e melhoraram a qualidade dos produtos que já faziam.

No Reino dos Patos, da mesma forma, os nobres se reuniram e discutiram durante dias sobre o que fazer, suas plantações não estavam prontas e não haviam investido em mais nada, dependiam apenas da mina que fora destruída. Eles debateram bastante sobre que decisões agradariam ao rei quando voltasse, mas não tinham certeza do que fazer. Como não houve consenso, cada um decidiu fazer o que achava melhor, um plantou arroz, outro milho, outros se juntaram para recuperar a mina e alguns até optaram por deixar o país.

Quando os reis retornaram de seus lutos, o rei dos Gansos encontrou um país ainda mais próspero e decidiu premiar seus governadores. Já o rei dos Patos, ficou na dúvida se não teria sido melhor plantar melancias.

Eli Rodrigues

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O conto acima discute as reações de duas culturas organizacionais em cenários de crise, todos os personagens são fictícios e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

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Publicado por: Eli Rodrigues

There are 2 comments for this article
  1. Renê Ruggeri at 13:57

    Pra bom entendedor, pingo é letra…rs..

    Muito legal o texto Eli.

    Fico pensando se, antes do terremoto, um grupo do reino dos patos se mudasse para o reino dos gansos e vice-versa. Como seria a vida desses grupos com culturas tão diferentes?

    Parabéns!