Estrutura Analítica do Projeto de Pacificação no Rio de Janeiro

Estrutura Analítica do Projeto de Pacificação no Rio de Janeiro

Terror

Em novembro de 2010, iniciou-se uma reação de criminosos contra o processo de pacificação da cidade do Rio de Janeiro, traficantes de três facções se uniram em ataques terroristas espalhados pela cidade, buscando instaurar o caos. A população ficou desesperada, mas a polícia local reagiu muito rapidamente na contensão dos ataques e ainda tomou-lhes mais territórios.

As forças militares são famosas pela aplicação de táticas de guerra, retenção de fronteiras, guerrilha, etc. Mas, confesso que fiquei impressionado ao ver uma operação envolvendo tantos agrupamentos diferentes trabalhando de forma coordenada.

Resolvi então coletar informações para analisar a operação de pacificação da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão, sob a perspectiva da Gestão de Projetos.

Operação ou Projeto?

O trabalho de pacificação realizado na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão foi um empreendimento realizado pelo Estado do Rio de Janeiro, que coordenou forças para conter a violência nas ruas, desarticular o tráfico, ocupar e pacificar. É um trabalho que jamais será realizado novamente da mesma forma, mesmo que seja necessário “pacificar novamente”. Numa situação dessas, o contexto nunca se repete exatamente igual.

Projeto é todo empreendimento de esforço coordenado que gera um resultado único. Logo, a “operação” de pacificação, segundo as definições do PM-BOK, foi um Projeto.

Estrutura Analítica do Projeto

Certamente as técnicas, terminologia e ferramentas da polícia são um pouco diferentes do PM-BOK, mas é possível, a partir de informações disponibilizadas na mídia, montar uma Estrutura Analítica de Projeto – EAP.

A EAP mostra  os principais Pacotes de Trabalho ou Fases do projeto, costumeiramente tem uma numeração que  é endentada, demonstrando sua hierarquia (não apliquei aqui por questão de espaço). Ela dá uma visão geral da organização do projeto e de como será executado, facilita a validação do escopo e análise do impacto de mudanças. É também utilizada nos passos posteriores de planejamento de Tempo e Custo, na definição de atividades e estimativas de esforço e custo.

A EAP abaixo mostra minha perspectiva pessoal sobre o evento, não foi extraída de fontes oficiais e não tem a intenção de retratar a realidade em detalhes ou tampouco de questionar as ações realizadas. Tem o intuito puramente instrutivo, tratando-se de um evento bastante divulgado, pode ser usada em aulas sobre gestão de projetos e sobre EAPs, desde que mantenha a referência ao autor 🙂

Organizei a EAP por fases, separando em 4 grandes agrupamentos nomeados como 1. Contenção da violência nas ruas, 2. Desarticulação do tráfico, 3. Ocupação e 4. Implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).

Pelo que notei, a 1. Contenção da violência nas ruas foi a foco numero um do projeto, havia um senso de urgência no solucionamento da situação, pois os criminosos estavam criando terror nas ruas. A polícia fez a coleta de informações utilizando interceptação telefônica, monitoramento de vídeo e recepção de denúncias, em seguida criou um Centro de Gestão de Riscos para mapear os ataques e fazer a gestão de perímetro. A quantidade de ataques reduziu drásticamente  em pouquíssimo tempo.

A 2. Desarticulação do tráfico foi pouco divulgada por  motivo óbvio,  não é vantagem para a polícia explicar suas táticas. Das notícias divulgadas consegui extrair apenas a transferência dos chefões para presídios de segurança máxima em outros estados e, da mesma forma, os terroristas capturados foram também transferidos para longe.

A fase do projeto que mais chamou atenção, e foi inclusive televisionada, foi a 3. Ocupação, a polícia trabalhou em conjunto com as forças armadas para definir uma estratégia de invasão, fizeram a articulação para vinda de soldados, tanques e helicopteros; executaram todo um planejamento logístico para ter tantos soldados e armamentos num só local, com comida e condições mínimas de descanso, além de manter um esquema de revezamento. Em seguida, foi feita uma oferta de rendição e finalmente a invasão do Complexo. Após aproximadamente 2hs de batalha, tomaram o morro, fincaram as bandeiras do Brasil e do RJ e posicionaram soldados em alerta ao longo do caminho. Instauraram um ponto de checagem nas entradas  – grossomodo, ninguém entra, ningué sai – e iniciaram um polêmico processo de varredura nas residências em busca de armas, drogas, dinheiro e principalmente, criminosos.

A 4. Implantação das UPPs ainda não aconteceu e vai demorar, mas é o inevitável próximo passo, por isso acrescentei pacotes de trabalho como: planejamento tático, logístico, contrução de unidades fortificadas, recrutamento de policiais e substituição do exército.

Esse negócio ainda vai demorar um bocado para terminar, mas já foi uma grande evolução e principalmente, uma demonstração para o Brasil e o Mundo de que nosso país tem força, organização e vontade. É a Ordem e Progresso dando sinais de vida. Força, Rio!

Agradecimento especial ao colega Rafael Siza (@rafaelsiza), gerente de projetos e especialista em táticas de guerra, pela contribuição na elaboração da EAP.

 

Eli Rodrigues

Publicado por: Eli Rodrigues